CASAR NÃO É TRANSFORMAR DOIS EM UM, MAS EM TRÊS

por:
Ricardo Schwalfemberg

03 de Outubro de 2021

Dicas e Decisões

Semana passada, comecei a atender um casal de namorados que estão de casamento marcado para janeiro. O casório já era para ter acontecido ano passado, mas a pandemia, que fechou igrejas e afastou amigos e parentes das aglomerações, impediu a festa. E, para eles, casório sem festa não vale. Agora, com todo mundo vacinado, sinal verde. E esse hiato serviu para reafirmar as intenções do casal, e para um planejamento minucioso e bem planejado. Igreja, padrinhos, vestido, bolo, recepção, bufê, música aio vivo, DJ, fantasias, tudo muito bem escolhido, orçado e contratado. Eles sabem, até os centavos, quanto vai custar esse momento da vida deles.

Mas, se investiram quase dois anos no planejamento desse momento, não têm a menor ideia de como será a vida a partir do dia seguinte à volta da Lua-de-Mel, ou seja, do resto da vida deles. É um conto de fadas planejar um casamento, mas não é nada romântico planejar a vida financeira a dois. Mas é mais do que necessário. O casamento é um projeto para uma vida, e implica em cumplicidade, amor, amizade e transparência. E como todos os projetos, direta ou indiretamente, envolvem dinheiro, o planejamento financeiro do casal ganha importância capital para o sucesso desse projeto.

Decisões sobre casa própria ou alugada, investimento na carreira de cada um, escolhas de lazer, ter ou não ter filhos, a educação deles no futuro, tudo isso envolve escolhas financeiras, e envolvem ter dinheiro para que tudo isso se realize de forma segura.

Mas é muito comum que novos casais partam do princípio de que casar significa transformar duas vidas em uma só, o que eu acho um erro e um perigo. Penso que casar significa transformar duas vidas em três, e não estou falando de filhos, mas de projetos de vida. O casamento implica no surgimento de projetos do casal, mas não deve anular os projetos individuais. Hoje, o padrão é que casais são formados por pessoas produtivas, com carreiras e rendas individuais, cada um com seus hábitos, gostos e objetivos pessoais. Abandonar essa individualidade em nome de projetos únicos pode ser o caminho mais curto para a frustração – e para o fim – de uma união. Os três projetos têm que conviver harmonicamente.

Educação continuada, intercâmbio, investimento no próprio negócio, aprimoramento profissional, tudo isso pode fazer parte do arcabouço de projetos de um, mas não de outro, e precisam ser respeitados. E tudo isso exige investimento, que precisa ser planejado para ser alcançado. Da mesma forma, pessoas diferentes têm gostos diferentes, e o que é essencial para um, pode parecer uma tremenda bobagem para o outro. E vice-versa. Um casal pode ser constituído de pessoas com gostos muito diferentes, e isso não deveria ser um problema.

Veja, sem entrar na questão de gênero, já que casais, hoje, podem ter composições as mais diversas, imagine um casal onde um lado investe em cremes, cosméticos, tratamentos de beleza, dermatológicos, enquanto o outro acredita que um bom sabonete é solução para tudo. Um lado não vive sem roupas, sapatos, acessórios e adereços renovados constantemente, enquanto o outro só tem roupa nova no armário “simidão”. Um lado não vive sem trocar de smartphone ou de carro todo ano, enquanto o outro vive muito bem com o seu celular de conchinha e o seu pois é na garagem...

Quem está certo ou errado? Se o orçamento for do tipo “balaio único”, os dois estarão errados na maioria do tempo, um achando que o outro gasta o dinheiro do casal em bobagens sem fim. Por isso, acredito em três balaios, o do casal, e os individuais.

Um exemplo prático: Se um ganha cerca de R$15 mil mensais, e o outro, R$12 mil, que tal formar uma contribuição de dois terços cada, para o fundo do casal? R$10 mil de um, R$8 mil de outro a cada mês, para as responsabilidades conjuntas, como moradia, abastecimento, saúde, locomoção, educação dos filhos, lazer familiar, projetos para o futuro da família. O outro terço, cada um mantém em suas contas individuais, para aquilo que o faz feliz, sem ter que dar satisfações à outra parte. Assim, projetos individuais não precisam ser expostos ao escrutínio do outro, já que não existe essa coisa de certo e errado quando se fala em individualidade.

A forma como isso será equacionado, na prática, é uma escolha de cada casal. Pode ser através de três contas bancárias, uma conjunta e outras duas individuais, ou pela distribuição proporcional de responsabilidades de pagamento das obrigações, ou pela delegação de diferentes obrigações, tipo “eu pago isso, você paga aquilo”. Vocês decidem o que funciona melhor. Mas conversar e definir claramente como o casal vai funcionar financeiramente pode não ser romântico, mas preserva casamentos. Se dinheiro não traz felicidade, a falta dele atrapalha um bocado. Então, mãos à obra proteger a relação.

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