Décadas passadas falávamos sobre a velocidade com que as transformações no mundo aconteciam, hoje falamos sobre a aceleração dessas transformações; há décadas passadas falávamos em progressão aritmética, hoje o foco é a progressão geométrica; antes o crescimento era linear e hoje o crescimento é exponencial. A expressão Mundo VUCA – Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade – está cada vez mais presente nas rodas de conversas, temas de congressos, seminários e no nosso dia a dia.
Estamos inseridos numa cultura em que tudo precisa ser rápido – erre rápido, acerte rápido – aprenda fazendo e depois desenvolva a teoria. Vivemos no mundo do “descartável”, até pouco tempo atrás tínhamos um aparelho para tirar fotos, outro para filmar, outro para ver filmes, hoje podemos fazer tudo com um aparelho que cabe na palma da nossa mão, e todos os anos queremos um novo aparelho, que faz praticamente as mesmas coisas, para estar sempre “atualizado” às novas e últimas tecnologias. Novos modelos de automóveis são lançados todos os anos, e com eles, o estímulo para a troca; e o que fazer com esses objetos que são substituídos tão rapidamente?
Vivemos num um mundo em que temos a cada dia mais redes sociais com o objetivo de “conectar” as pessoas, mas estamos cada vez mais desconectados. Temos milhares de amigos nas redes sociais, mas não temos tempo para sentar, tomar um café, perguntar “como está a vida?” e ouvir, simplesmente ouvir! Respondemos as mensagens de pessoas queridas pelo whatsapp, mesmo a pessoa estando no quarto ao lado.
Vivemos num mundo em que desenvolvemos a tecnologia em prol de aumentar a longevidade, mas vemos jovens perdendo o sentido da vida, sem propósito, sem estrutura psicológica para lidar com as frustrações. Queremos ter mais tempo de vida, mas qual o uso estamos fazendo do tempo que temos?
Vivemos num mundo em que é crescente o número de mulheres que postergam a maternidade para focar no crescimento da carreira, assim como é crescente o número de mulheres realizando tratamento de fertilidade para tornar possível viver a experiência da maternidade.
Vivemos num mundo em que é crescente o número de milionários/bilionários e jovens, assim como é crescente o número de patologias como depressão, síndrome do pânico e dificuldade para dormir.
Desde a minha adolescência ouvia que gastamos saúde para ganhar dinheiro e depois gastamos dinheiro para ganhar saúde, e essa está sendo uma realidade, independentemente da idade.
Vivemos no mundo que precisamos tornar tudo digital, ampliar a tecnologia, ao mesmo tempo que precisamos que os seres humanos sejam cada vez mais humanos. Poderia descrever páginas e páginas de ambiguidade e dualidade, mas a pergunta que se faz presente é: Como me vejo nesse mundo VUCA? Qual é o mundo que gostaria de construir?
Quando faço o exercício de recordar os momentos mais gratos e felizes da minha vida, encontro nas recordações os momentos mais singelos e simples, como estar com as pessoas que amo, admirar um lindo pôr do sol, apreciar uma linda noite de luar, cozinhar uma comida gostosa para os amigos, conhecer um lugar novo, tomar um banho de cachoeira, deitar na rede e ler um livro, fazer algo que agregue valor à vida das pessoas, e assim poderia passar linhas e mais linhas listando, mas outra pergunta se faz presente: “Quanta tecnologia é preciso para viver esses momentos felizes?” Você pode estar se perguntado: “Você é contra a tecnologia?” NÃO, muito pelo contrário, ela é importante e fundamental, mas não podemos deixar de prezar pelo equilíbrio e estar atento a uma vida consciente e presente, tendo clareza do porquê.
O evento do HSM expo 2018, que reuniu milhares de pessoas em São Paulo, mostrou claramente a atenção e necessidade desse “equilíbrio” através da programação disponibilizada – palestras sobre mundo digital, novas tecnologias, blockchain paralelamente a palestras sobre Mindfulness, importância da negociação, cuidado com o meio ambiente. E um tema que foi citado constantemente em várias palestras foi a importância do propósito para as empresas.
Mas a pergunta que precisamos fazer antes de tudo é: Qual o meu propósito de vida? Para que gostaria de viver 100 anos? O que quero contar para os meus netos?
Se hoje estamos vivendo no “mundo VUCA” qual o mundo que gostaria de viver? Se fosse para escolher outras quatro palavras para descrever esse mundo, quais seriam? Para mim seria um mundo: Consciente – Equilibrado – Simples – Saudável.
Um mundo consciente, em que as pessoas estejam verdadeiramente presentes em todos os momentos da vida, saber o porquê vivo, ter clareza das prioridades da vida. Viver de forma mais real e menos fictícia, focar no que é mais permanente e menos no que é transitório.
Um mundo equilibrado, sabendo que o ser humano possui diversas vidas e que o equilíbrio dessas vidas é a chave do sucesso, não apenas profissional, mas como filho(a), amigo(a), mãe/pai, etc. O equilíbrio entre o ter e ser. Muito se foca atualmente em ter, deixando de lado muitas vezes o Ser.
Um mundo simples, pois observo que os seres humanos criam a complexidade da vida, e hoje vivemos a realidade de que é “complexo ser simples”. A observação consciente nos apresenta uma realidade de que a simplicidade traz felicidade.
Um mundo saudável, pois precisamos de pessoas saudáveis - saúde física, mental e psicológica, assim como relacionamentos saudáveis, natureza saudável, etc. Evoluir é uma prerrogativa do ser humano, mas que essa evolução seja cada vez mais consciente, sabendo o porquê e para que desfruto dessa grande oportunidade que é a VIDA!