DAR UM PASSO MAIOR QUE A PERNA PODE SIGNIFICAR MUITA DOR DE CABEÇA

por:
Ricardo Schwalfemberg

22 de Março de 2020

Muito de Life

Vira e mexe, ouço desabafos de clientes sofrendo por conta das conseqüências das escolhas feitas no passado. Dentre as mais recorrentes, estão as queixas quanto à decisão de compra de imóvel próprio. Outro dia, escutei de meu cliente: “Ricardo, logo depois do casamento, há dois anos, eu e minha mulher decidimos partir para a compra financiada de nosso apartamento. Um imóvel de dois dormitórios atenderia perfeitamente às nossas necessidades por uns bons anos, mas eu pensei que, já que era para pagar por mais de 20 anos, que fosse por um apê definitivo, do qual não precisássemos nos desfazer, mesmo quando os filhos chegassem. Apertamos de um lado, de outro, e compramos um apartamento de quatro dormitórios, financiado em 25 anos. Não preciso nem dizer que as prestações ficaram um bocado salgadas, pesadas mesmo. Está dando para pagar, mas ao custo de um sacrifício enorme para nossa qualidade de vida. De uns tempos para cá, minha mulher tem me culpado por essa escolha, me esfregando na cara que a dívida de um apartamento em que caibam os filhos que a gente ainda não tem custa tão caro que não podemos ter os filhos que queremos ter! E não adianta argumentar que esse sacrifício é um investimento para o nosso futuro, e não uma dívida, ela não concorda comigo.” 

Veja, ela tem toda razão em não concordar. O que esse cliente tem é uma dívida, sim, e não um investimento. Mas tem muita gente que não consegue enxergar a diferença entre uma coisa e outra. Investimento a gente define de que tamanho será, de maneira eletiva, a cada mês, e não como obrigação assumida junto a um terceiro. Investimento a gente aplica, recebendo juros pela aplicação, tendo depois a grana toda na mão, para fazer o que quiser com ela. E o principal: investimento a gente pode parar de fazer, ainda que temporariamente, se ficar desempregado, por exemplo, ou se surgir uma emergência.

Agora, vá tentar fazer isso com uma dívida! Se você assumiu esse compromisso, ele se tornou compulsório, e os juros quem paga é você. Eu sei que os juros de um financiamento imobiliário estão entre os menores praticados no Brasil, mas isso não quer dizer que eles sejam pequenos. E o que é pior: se pintar o desemprego, ou uma emergência, seu credor não vai ter piedade. Atrasou, vem a inadimplência, e a perda do bem. Sem contar que, diante de uma necessidade que se imponha, sempre se pode usar uma parte do capital investido, repondo depois, mas não dá para vender o banheiro, ou a cozinha, para solucionar o problema, comprando outro depois.

Eu sei que os motivos que nos levam a decisões como essa são nobres. A gente quer aumentar o patrimônio familiar, dar mais conforto aos nossos, criar o nosso cantinho definitivo. Mas será que a gente precisa mesmo de tudo isso? Um imóvel tão grande representa prestações maiores, juros maiores, IPTU maior, condomínio maior, gastos maiores com decoração, manutenção, limpeza, empregados. Será que a gente precisa de tanta dor de cabeça? Talvez uma dívida melhor pudesse representar uma folga no orçamento, para poder curtir a vida de quase recém-casados, investir em outros objetivos de vida, e até começar a pensar no aumento da família.

Mas nada na vida, a não ser a ida para o andar de cima, é definitivo. Então, aproveite a valorização que seu apartamento teve nos últimos anos, por menor que tenha sido, e compre, com uma boa entrada, um imóvel que atenda às suas necessidades, sem exageros. Provavelmente dará para pagar uma prestação muito menor, e em um prazo muito menor. Logo, você verá que esse passo atrás significará muitos passos à frente.

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