A grande maioria dos brasileiros assalariados sonha um dia poder se livrar do emprego e trabalhar por conta própria. Como a maioria dessa maioria não conseguirá realizar esse sonho, não seria o caso de pensar em trabalhar para si mesmo, só para variar? Diz o ditado que quem trabalha muito não tem tempo para ganhar dinheiro. E a sabedoria popular é implacável! Você, que é assalariado, já parou para pensar por que é que a empresa onde você trabalha paga seu salário? Por bondade? Simpatia? Ahã... Essas nove, dez horas diárias, cinco ou seis dias por semana servem para tornar ricos os empresários e acionistas da empresa que contratou você. Isso significa que, durante a maior parte de sua vida, você terá dedicado seu esforço, sua competência e seu tempo para enriquecer os outros. 

Colocado dessa forma, pode parecer profundamente injusto, mas se você pensar bem, não é. O capitalismo se traduz pelo uso do capital para gerar mais capital. Então, quem tem dinheiro põe esse dinheiro para trabalhar. Quem não tem dinheiro, é convidado a contribuir para quem tem dinheiro ganhar mais dinheiro. E recebe para isso um pedacinho dessa riqueza criada, através do salário. Se todo trabalhador percebesse isso, não seria necessária nenhuma revolução comunista para virar esse jogo, bastando poupar parte dessa remuneração todo mês, para que, lá no fim de sua vida profissional, você tenha acumulado um patrimônio suficiente para viver de renda, ou para criar o seu próprio negócio, gerando emprego para quem não tem meios para isso. Ou seja, a essência do capitalismo é acumular capital, para que o capital gere capital, e quem não tem capital trabalhe para você ganhar mais capital. Se é para jogar esse jogo, jogue do lado certo, oras!

Na utopia do capitalismo, se cada trabalhador poupasse para se tornar um pequeno empresário, e empregasse dois ou três trabalhadores que poupassem para também empreenderem e contratassem, não haveria desemprego, fome, miséria, e o mundo entraria em um círculo virtuoso de prosperidade. Mas sabemos que utopias não existem. Nem todo negócio aberto sobrevive. Nem todo trabalhador tem as ferramentas (vocação, competência) necessárias para empreender com sucesso. Sabemos que muitos continuarão dependendo de um salário durante toda a sua vida. Mas depender de um salário a vida toda não precisa significar consumir todo o seu salário a vida toda. Ao consumir todos os seus recursos para manter o dia a dia, o trabalhador estará condenado a trabalhar duro até o fim dos seus dias, ou a ver o seu padrão de vida cair muito quando deixar de ser produtivo para quem detém capital. Se, ao invés disso, poupar parte desse salário para o futuro, estará gerando riqueza para si e para quem ama.

Então, se quisermos que o capitalismo não seja selvagem, todo trabalhador precisa entender o seu papel nessa grande engrenagem. Quando você dedica seu tempo para gerar mais riqueza para os ricos, está abrindo mão de tempo que poderia estar sendo usado para o convívio familiar, cuidados com a saúde, lazer, projetos pessoais. Enquanto está trabalhando, sobra menos tempo para desenvolver competências através dos estudos, o que permitiria gerar riqueza para si mesmo. Então, é justo que o trabalhador seja indenizado por esse tempo através do salário. É por isso que, apesar de a Receita Federal exigir de você todo ano o pagamento do Imposto de Renda, eu digo que salário não é renda! Renda é o que você pode acumular do seu salário DEPOIS que seus compromissos mensais foram honrados. É com esse superávit que construímos o patrimônio que poderá nos gerar riqueza através de aplicações financeiras, imóveis de aluguel, abertura de um negócio, etc. Quem não enxergar essa realidade estará condenado a perpetuar essa engrenagem cruel de enriquecer quem já é rico por toda a sua vida.